Enem 2025: presidente do Inep presta esclarecimentos sobre questões da prova que foram 'antecipadas'
02/12/2025
(Foto: Reprodução) EXCLUSIVO: Mensagens indicam acesso prévio a mais 2 questões do Enem não anuladas
O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manoel Palacios, compareceu a uma audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (2), para prestar esclarecimentos a respeito das fragilidades do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025. O convite foi feito pelo deputado Thiago de Joaldo (PP-SE).
Ao menos 8 questões da prova foram divulgadas antecipadamente em lives, apostilas e grupos de Whatsapp (entenda abaixo), como mostrou o g1, em primeira mão.
Abaixo, confira em tópicos o que o presidente do Inep afirmou na audiência.
Objetivo da prova e impacto da anulação de itens:
De acordo com Palacios, o principal objetivo do Enem como avaliação é obter, com a melhor precisão possível, uma estimativa da proficiência do estudante nas quatro áreas do conhecimento que são avaliadas.
"A anulação de 1 item, de 2 ou 3, não altera a precisão dessa medida. Poderia até mesmo dizer que o compromisso do Enem em cumprir o currículo da Base Nacional Comum Curricular é o que faz com que ele tenha mais itens do que são necessários para estimar a proficiência do estudante", disse Palacios.
Pré-testes:
O presidente do Inep ainda afirmou que não há como realizar um exame como o Enem sem a realização de pré-testes, que, podem ser chamados, em uma linguagem técnica, de construção de testes de ligação.
"São esses pré-testes que fazem com que os resultados se tornem comparáveis. Por meio deles, nós ordenamos os itens por dificuldade, de todos os testes, e as escalas são equalizadas de modo que os testes sejam comparáveis", disse.
"Eu só posso dizer com certeza que quem tirou 500 pontos em uma prova tem um resultado semelhante a quem tirou 500 pontos em outra prova porque são realizados pré-testes".
Universitário que revelou questões do Enem 2025 pagava R$ 10 por cada pergunta de pré-teste repassada a ele
Reprodução
Aplicações regulares e equivalência das notas:
Durante sua participação na audiência, Palácios lembrou que haverá duas aplicações regulares do Enem em 2025. A primeira ocorreu nos dias 9 e 16 de novembro, e a segunda é a do Grande Pará, que começou em 30 de novembro e termina em 7 de dezembro. De acordo com ele, os resultados e notas serão equivalentes, mesmo com as três questões anuladas.
Os resultados do Enem são comparáveis. Quem fez a prova no Pará tem resultados que são comparáveis com quem fez a prova no Rio de janeiro ou aqui em Brasília em outra data.
O que aconteceu no Enem 2025?
Em 18 de novembro, o g1 publicou uma reportagem exclusiva mostrando que 6 questões das provas de Ciências da Natureza e de Matemática já haviam sido divulgadas previamente em lives e em apostilas do estudante de medicina Edcley Teixeira, de Sobral (CE).
O Inep, diante disso, anulou três dessas perguntas.
Dias depois, outras duas questões vieram à tona em prints de grupos de Whatsapp de Edcley, como revelou o g1. Em uma das mensagens, o cearense diz que, se cair determinada alternativa no Enem, "pode marcar sem ler". Exatamente esta opção estava na prova.
Estudantes passaram a defender a anulação integral do Enem por quebra de isonomia.
Como funcionava o esquema?
Universitário que revelou questões do Enem 2025 pagava R$ 10 por cada pergunta
Edcley descobriu que um concurso da Capes (órgão do governo federal) servia como pré-teste do Enem: ou seja, era usado para calibrar o nível de dificuldade e a viabilidade de itens que poderiam aparecer em edições futuras da prova.
Ele pagava estudantes para que eles participassem do concurso e memorizassem questões (principalmente as de exatas). A partir disso, formulou um banco de pré-testes e vendeu o material em pacotes de "mentoria".
O caso está sob investigação da Polícia Federal.
Por que o Inep só anulou três questões, das 8 antecipadas por Edcley?
Estudante indicou respostas do Enem 8 meses antes da prova
A anulação das três questões ocorreu logo após as primeiras revelações sobre o caso Edcley, ainda em meio a incertezas. O Inep afirma não tinha clareza sobre o alcance das divulgações antecipadas e, por isso, optou por uma medida imediata de contingência.
Após a anulação, a equipe do Inep afirma ter identificado semelhanças, mas não equivalência total entre os itens antecipados e a prova. Palacios diz que nenhuma questão idêntica apareceu no material divulgado por Edcley.
O Inep considera que a exposição prévia de perguntas não altera o desempenho dos candidatos, porque eles resolvem um alto volume de questões ao longo da preparação para o Enem.
Por que isso importa para a nota?
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A nota do Enem é calculada pela Teoria de Resposta ao Item (que mede a coerência no desempenho dos candidatos).
Especialistas afirmam que, nesse modelo, anular 5 itens de uma mesma área de conhecimento (como o que poderia ocorrer em matemática) poderia afetar a precisão da prova, dependendo principalmente da dificuldade dessas perguntas.
O impacto maior ocorreria se as 5 questões fossem todas fáceis, todas médias ou todas difíceis — ou seja, “vizinhas” na régua de dificuldade.
O que ainda não se sabe?
O Inep não divulgou os parâmetros psicométricos desses itens (dificuldade, discriminação e acerto casual), mesmo diante dos pedidos do g1.
Sem esses dados, não é possível confirmar se a prova manteria ou não sua precisão, caso todas as questões antecipadas por Edcley fossem anuladas.