Família de pescador colombiano morto em ataque denuncia EUA em comissão de direitos humanos
03/12/2025
(Foto: Reprodução) EUA realizam novo ataque contra embarcação no Pacífico
A família de um pescador colombiano que morreu em um dos ataques no Caribe ordenados pelo governo do presidente americano, Donald Trump, denunciou os Estados Unidos na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e negou que ele transportasse drogas em sua lancha.
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Segundo os parentes, Alejandro Carranza saiu da cidade de Santa Marta para pescar em mar aberto no dia 15 de setembro e apareceu morto dias depois.
"Sabemos que Pete Hegseth, secretário da Defesa dos Estados Unidos, foi o responsável por ordenar o bombardeio de embarcações como a de Alejandro Carranza Medina e o assassinato de todas as pessoas que estavam nelas", diz a denúncia, à qual a AFP teve acesso nesta quarta-feira (3).
Até o momento, mais de 80 pessoas que viajavam em lanchas supostamente carregadas com drogas no Caribe e no Pacífico morreram em ataques lançados por Washington.
Secretário de Guerra dos EUA zombou de ataques
Secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, e montagem de tartaruga Franklin bombardeando barcos.
Pool via Reuters e reprodução/redes sociais
No domingo (30), o Secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, publicou uma montagem com um desenho infantil para zombar dos ataques a embarcações no Caribe e de acusações de ter cometido um possível crime de guerra em uma ofensiva.
A montagem compartilhada por Hegseth mostra uma tartaruga verde chamada Charlie, de um desenho infantil de mais de 20 anos de existência e popular nos EUA, a bordo de um helicóptero disparando um lança-mísseis contra barcos carregados com pacotes e pessoas armadas com o título "Franklin mira narcoterroristas". (Veja na imagem acima)
O Exército dos EUA realiza, desde setembro, bombardeios contra embarcações no Caribe e no Oceano Pacífico —em águas internacionais próximas à costa da América do Sul— a mando do presidente dos EUA, Donald Trump. Os ataques são amplamente repudiados pela comunidade internacional, e a ONU disse ver elementos de "execuções extrajudiciais". (Leia mais abaixo)
Principal porta-voz dos ataques a embarcações, Hegseth teria dado uma ordem direta às tropas que matassem todos os integrantes de um dos barcos alvejados pelos EUA, o que configuraria um crime de guerra, segundo o jornal americano "The Washington Post".
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Segundo o jornal, em 2 de setembro, um bombardeiro disparou um míssil contra uma embarcação, e quando a fumaça se dissipou, minutos depois, foi possível ver dois sobreviventes agarrados aos destroços em chamas. Foi aí que veio a ordem de Hegseth para um segundo disparo.
“A ordem era matar todo mundo”, disse uma pessoa com conhecimento da operação sobre uma ordem verbal dada por Hegseth.
Hegseth afirmou na sexta-feira (28) que as operações do governo Trump no Caribe "são legais tanto sob a legislação dos EUA quanto sob o direito internacional, com todas as ações em conformidade com o direito dos conflitos armados", e chamou a reportagem do "Washington Post" de fake news. O presidente americano disse no domingo que o secretário contou para ele que não deu a ordem.
Políticos do Congresso dos EUA, entre eles democratas e o republicano Mike Turner, sugeriram no domingo que o segundo ataque para matar os sobreviventes pode ter configurado um crime de guerra. O legislativo americano investiga os ataques do governo Trump.
“Obviamente, se isso ocorreu, seria muito sério, e concordo que isso seria um ato ilegal”, disse Turner, à TV americana "CBS".
O deputado republicano é tratado como uma figura importante no partido, porque foi ex-presidente do Comitê de Inteligência. O senador democrata Tim Kaine também afirmou à "CBS" que, se a reportagem do "Washington Post" for correta, o ataque “alcança o nível de um crime de guerra”.
Funcionários do governo dos EUA e especialistas em direito de guerra disseram ao "Washington Post" que a campanha letal do governo Trump no Caribe é ilegal e pode expor os diretamente envolvidos a futuras acusações.
O Pentágono já indicou que dará imunidade judicial aos soldados do Exército americano envolvidos nos bombardeios a embarcações, segundo um comunicado interno obtido por agências de notícias.
Ataques a embarcações
VÍDEO mostra EUA atacando barco no Caribe
Até o momento, 20 embarcações foram atacadas e um total de 80 pessoas foram mortas. O ataque mais recente foi em 13 de novembro. O governo Trump acusam, sem apresentar provas, essas embarcações de pertencerem a cartéis de drogas latino-americanos e conter narcoterroristas e carregamentos de drogas rumo aos EUA.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou em novembro haver "indícios" de que os ataques do governo Trump são execuções extrajudiciais. No final de outubro, a ONU pediu que os EUA parassem com os ataques.
Trump também disse "estar em guerra" contra cartéis de drogas latino-americanos e ordenou, em agosto, uma operação militar na região da América Latina contra esses grupos.
Desde então, os EUA mobilizaram uma ampla presença militar na região e fazem ataques recorrentes a embarcações no mar do Caribe e em regiões do Oceano Pacífico próximas à costa América Latina.
Os bombardeios a essas embarcações também compõem uma estratégia de pressão ao governo de Nicolás Maduro, da Venezuela, acusado pelos EUA de chefiar o Cartel de Los Soles. O presidente venezuelano acusa o governo Trump de realizar uma campanha de pressão que tem como objetivo tirá-lo do poder.