'Gosto amargo': o que disseram Lula e Santiago Peña sobre ausência de presidente paraguaio na inauguração da Ponte da Integração, no Paraná
21/12/2025
(Foto: Reprodução) Lula inaugura Ponte da Integração no Paraná
Mayala Fernandes/g1
Depois de inaugurarem a mesma ponte em eventos diferentes – cada um de um lado da fronteira – Lula e o presidente paraguaio Santiago Peña se encontraram na Cúpula do Mercosul neste sábado (20), em Foz do Iguaçu, e comentaram a situação. Peña lamentou o fato de a representação diplomática dos dois países não ter conseguido chegar a um acordo. E disse que ficou com um "gosto amargo na boca".
Lula inaugurou a Ponte da Integração, que liga Foz do Iguaçu, à cidade paraguaia de Presidente Franco, em evento oficial na tarde de sexta-feira (19). O presidente paraguaio não compareceu ao evento e, no dia seguinte, realizou uma outra inauguração, do lado paraguaio da fronteira.
Durante a inauguração brasileira, Lula comentou a ausência do homólogo paraguaio: “Eu quero explicar porque não estou aqui com o Santiago Peña. Ele não podia hoje, por um problema familiar em Assunção, e eu não podia amanhã à tarde, porque termino [a Cúpula d]o Mercosul e preciso voltar a Brasília. Então eu inauguro o lado brasileiro, ele inaugura o lado paraguaio, e ganha o Brasil e ganha o Paraguai”, disse o presidente.
No sábado, durante o discurso na reunião da Cúpula, o presidente paraguaio se dirigiu diretamente a Lula. Disse que o vê como "um grande líder, que abraça as causas populares". Durante o discurso, o presidente afirmou ainda que vê em Lula um amigo do Paraguai e o agradeceu por isso. No entanto, ao falar sobre a inauguração da Ponte da Integração, Peña foi enfático nas críticas.
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"Mesmo dentro de meu incurável otimismo, também tenho que ser realista. [...] Porque vejo que, apesar dos avanço, vejo uma mesquinhez política. Vejo que, para além dos discursos que repetimos a cada seis meses nessas cúpulas, quando temos que implementar muitas das ações, não vemos grandes avanços. E um exemplo, presidente Lula. O senhor mencionou a inauguração da ponte no dia de ontem. E nisto assumo, em parte, a responsabilidade -- a responsabilidade da minha chancelaria e da sua chancelaria, que depois de 50 anos da inauguração da Ponte da Amizade, as chancelarias não puderam chegar a um acordo para que o senhor e eu pudéssemos nos encontrar no meio dessa ponte para celebrar um feito histórico."
Em tom um pouco mais leve, Peña concluiu com o que chamou de "desafio" a Lula. Sugeriu que os dois presidentes troquem números de telefone para que possam eles mesmos combinar a melhor data, "porque claramente os chanceleres demonstraram que não são capazes de fazer um acordo". E convidou: "quero estar com o senhor e lhe dar um abraço no dia da inauguração desta ponte".
Para o professor Aníbal Orué Pozzo, coordenador da pós-graduação Integração Paraguai-Brasil, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), a ausência de Peña tem peso político e simbólico dentro do bloco.
O episódio, segundo o especialista, evidenciou ruídos diplomáticos entre os dois países às vésperas da Cúpula do Mercosul.
“O Paraguai está com uma política externa muito fraca e indecidida [...] A não presença do Santiago Penha, como presidente do Paraguai, enfraquece e reorienta as relações do Paraguai para outras áreas e não para o Mercosul. Eu acho que enfraquece o Mercosul, porque o Mercosul funciona com consenso”, afirma Pozzo.
A 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados marcou o encerramento da presidência temporária do Brasil à frente do bloco e teve a presença de autoridades da região.
🔎 Fundado em 1991, o Mercosul é o principal bloco econômico da América do Sul. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai são membros fundadores, e a Bolívia tornou-se Estado Parte em 2024. Segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), o bloco recebeu, em 2024, 42,1% dos investimentos estrangeiros diretos da América Latina, sendo o Brasil responsável por mais de 85% desse volume.
Presidente Lula inaugura a Ponte da Integração, entre o Brasil e o Paraguai
Ponte da Integração alivia trânsito pesado das cidades
A Ponte da Integração Jaime Lerner liga Foz do Iguaçu, no Brasil, a Presidente Franco, no Paraguai, e é a segunda conexão viária entre os dois países na região, mais de 60 anos após a inauguração da Ponte da Amizade. A estrutura estava concluída desde 2022, mas permaneceu sem uso devido à falta de aduanas, acessos e sistemas de fiscalização.
A via foi inaugurada na sexta-feira (19), pelo presidente Lula. O g1 esteve presente na cerimônia de abertura.
No entanto, a cerimônia foi encerrada devido a um problema técnico no gerador contratado para o palco, que, segundo a Itaipu Binacional, seria substituído por um segundo equipamento, disponível no evento. Porém, o presidente aparentemente se irritou com a falta de energia e decidiu descer para cumprimentar pessoalmente a plateia.
Neste sábado, ao longo da Cúpula do Mercosul, o presidente comentou a falha técnica.
“Ontem faltou energia no meu discurso, espero que não falte energia no discurso hoje”, disse.
A liberação do tráfego será gradual. Segundo a Receita Federal, a partir da noite deste sábado (20), apenas caminhões vazios poderão circular, entre 22h e 5h. A partir de 18 de janeiro, ônibus de turismo fretados estarão autorizados a trafegar das 19h às 7h. Ainda não há previsão para a liberação de carros e motos.
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Nova ponte promete aliviar o tráfego pesado
A expectativa é que a nova ponte reduza o fluxo de caminhões na Ponte da Amizade e no centro de Foz do Iguaçu.
“Nós vamos liberar o fluxo de caminhões pela Ponte da Integração, conectando o Brasil ao Paraguai”, afirmou o ministro dos Transportes, Renan Filho.
Para Lula, a nova ligação tem impacto direto no desenvolvimento regional.
“Nessa ponte vai transitar o povo paraguaio para o Brasil e o povo brasileiro para o Paraguai, para trabalhar, vender e comprar. O que interessa é fazer com que as duas economias cresçam”, disse o presidente.
Nova ponte Brasil-Paraguai
Itaipu Binacional
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