Letras que curam: alfabetização com cultura ribeirinha transforma vidas de crianças hospitalizadas no Pará

  • 08/07/2025
(Foto: Reprodução)
Projeto desenvolvido na Santa Casa de Belém ensina meninas ribeirinhas vítimas de escalpelamento a ler com letras pintadas em barcos da Amazônia — prática foi reconhecida em premiação estadual Premiação: Mulheres e meninas ribeirinhas atendidas no Espaço Acolher participam de aulas de alfabetização com letras amazônicas Agência Pará Em um hospital no coração de Belém, meninas ribeirinhas vítimas de um dos acidentes mais marcantes da Amazônia — o escalpelamento — redescobrem a própria história por meio das palavras. Durante o tratamento, elas aprendem a ler com letras que flutuam: tipografias coloridas pintadas nos barcos que cruzam os rios da região. A alfabetização nasce da realidade que elas conhecem — o nome da embarcação da família, o som da rabeta, o açaí da tarde — e transforma a sala de aula hospitalar em um território de pertencimento. Inspirado na pedagogia de Paulo Freire, o projeto aproxima educação e identidade com uma proposta simples e potente: ensinar com aquilo que faz parte da vida de quem aprende. Essa iniciativa recebeu, nesta semana, o primeiro lugar na Premiação de Boas Práticas em Humanização da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPA), em Belém. O projeto “Navegando na Alfabetização com as Letras que Flutuam” é desenvolvido pelo Espaço Acolher, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e o Instituto Letras que Flutuam, e vem transformando a experiência escolar de crianças em situação de internação, especialmente meninas vítimas de escalpelamento oriundas do Marajó. Belém ganha primeiro instituto do Brasil dedicado à cultura ribeirinha Escalpelamento é um acidente grave e recorrente em comunidades ribeirinhas da Amazônia, causado principalmente pelo contato do cabelo com o eixo exposto de motores de embarcações. Quando os fios se enrolam no eixo em movimento, há o arrancamento brusco do couro cabeludo, o que pode provocar traumas físicos, emocionais e sociais profundos, especialmente em meninas e mulheres. Esse tipo de acidente está relacionado à precariedade das condições de transporte fluvial na região e à falta de proteção adequada nos motores. Por isso, além de atendimento médico e hospitalar, vítimas de escalpelamento muitas vezes precisam de acompanhamento psicológico, reabilitação e acolhimento educacional, como o oferecido pelo Espaço Acolher. O trabalho de alfabetização com as letras amazônicas é realizado na Classe Hospitalar, espaço onde professoras da rede pública atuam diretamente com os pacientes. Ao perceberem que as crianças tinham dificuldade para se alfabetizar com os materiais tradicionais, as educadoras decidiram buscar uma abordagem mais próxima do cotidiano das alunas. Foi aí que surgiu a ideia de usar as letras dos barcos — um repertório visual que faz parte da paisagem e da memória afetiva dessas meninas. Alfabeto criado com letras ribeirinhas se torna ferramenta de educação e acolhimento na Santa Casa Agência Pará Arte gráfica da Amazônia A parceria com o Instituto Letras que Flutuam começou após o lançamento do livro homônimo, fruto de mais de 15 anos de pesquisa de Fernanda Martins, que documenta a tradição centenária dos “abridores de letra” — artistas ribeirinhos que pintam nomes e frases nos cascos das embarcações amazônicas. O projeto gráfico, inicialmente criado para apoiar financeiramente os abridores durante a pandemia, encontrou na educação um novo caminho. “Elas vieram até nós com o pedido para usar as letras do projeto em sala de aula, e isso foi uma surpresa linda. O ABC do Abridor não foi pensado para a educação formal, mas ver esse conteúdo sendo usado como ferramenta de alfabetização, especialmente com base em Paulo Freire, é emocionante. Em vez de ensinar com imagens distantes da realidade, como um urso panda, elas usam as letras dos barcos — algo que essas crianças veem todos os dias”, afirmou Fernanda Martins, diretora do Instituto. Arte gráfica popular da Amazônia é tema de evento que reúne artistas e designers da América Latina Letras Q Flutuam Durante as atividades pedagógicas, as crianças desenham letras, montam palavras, escrevem nomes da família e elementos do dia a dia. A familiaridade com o conteúdo gera conexão e acelera o processo de aprendizagem. “A gente notou que elas aprendem muito mais rápido. Elas reconhecem o nome do barco só de olhar, então começamos a usar essas letras para alfabetizá-las”, explica Denise Soares da Mota, professora da Classe Hospitalar. A coordenadora do Espaço Acolher, Luzia Matos, reforça que o projeto vai além do conteúdo escolar. “Quando você desenha, você grava. E ao montar palavras com as letras dos barcos, elas vão também reconstruindo uma parte da própria identidade. Esse trabalho valoriza uma arte regional e torna visível uma cultura que muitas vezes é invisibilizada”, afirma. Letras multicoloridas marcam os barcos da Amazônia: arte gráfica ribeirinha ILQF A Premiação de Boas Práticas em Humanização é promovida anualmente pela Santa Casa para reconhecer iniciativas voltadas ao cuidado integral dos pacientes. Este ano, 11 projetos foram inscritos, nove classificados e três premiados. A proposta desenvolvida no Espaço Acolher destacou-se por unir saúde, educação e cultura em uma experiência afetiva e transformadora para crianças da Amazônia. 📲 Acesse o canal do g1 Pará no WhatsApp VÍDEOS com as principais notícias do Pará

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2025/07/08/letras-que-curam-alfabetizacao-com-cultura-ribeirinha-transforma-vidas-de-criancas-hospitalizadas-no-para.ghtml


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